Kafka revisited (2025)
Ao desembarque na Infante Santo começa tudo outra vez. É em frente ao Carrossel que mergulho num buzz contínuo de carros e emails. É sempre um alto e baixo a que nenhum niilismo sabe resistir: sou o tal Kafka administrativo e inútil que sempre neguei, e em cada ação deposito a minha vida como se disso dependesse muito, mesmo conhecendo o oposto. De onde vem esta inquietação que debato cedo no limbo de acordar, exasperado para ficar mais um pouco? Os dias correm muito ágeis, janeiro lento pelo menos, mas já a seguir os meses todos, o verão lânguido, e nenhum resultado. Eu pensava que tudo seria diferente, as ambições benignas, as grandes palavras. Olho hoje o miúdo de 7 anos, vidrado em frente à TV e a trincar chocapic, o que fui, para lhe dizer que lamento. Nunca gostei de parques de diversões. À porta da poesia incompleta espreito, na escura nuvem erubescente, o outro eu que não chegou.